Alagamento: sempre devagar

A sequência de chuva que atingiu Rio Grande do Sul provocou inundações e também uma série de alagamentos nas cidades. E muita gente ficou pelo caminho.

Era final de manhã na avenida guaíba, zona sul de Porto Alegre, em que a cena do condutor de um Fiat Fiorino foi registrada. O veículo inicia a travessia de um trecho inundado pelo lago Guaíba com a enchente. O motorista não recua e segue avançando até que uma onda se forma na frente do carro. A água tapa até mesmo o capô do motor. Ele segue até que o carro consegue vencer a inundação.

A prática é desaconselhada pelos mecânicos. Héctor Besouchet, da Promec, oficina mecânica de Porto Alegre, explica que a cultura de passar rápido remete aos tempos do Fusca, em que o motor ficava atrás. Hoje, a tomada de ar dos carros está voltada para frente. Caso a água entre, vai parar dentro do motor.

“Se a tomada de ar é na grade, no capô, essa situação hoje é mais propícia ao calço hidráulico. Se for passar tem que ser sempre devagarinho para não fazer onda”, reforça Hector.

Calço hidráulico: o que é?

Calço é algo que trava, tranca, segura. Se é hidráulico, estamos falando de uma “trava líquida”. É quando a água entra junto com o ar e vai parar dentro do motor.

O mecânico explica que quando a onda aumenta na frente do carro, a água sube o para o para-choque vai até a tomada de ar. O motor aspira essa água para dentro. “E o motor não consegue admitir água. Ele admite ar e combustível em forma de pulverização. Ele comprime para fazer andar e funcionar o ciclo do motor. A água não. A água não comprime.” Hector Besouchet aponta que quando o carro absorve água o pistão vai subir, a água não vai comprimir e o motor vai quebrar.

 

O que fazer? Atravessar devagar

Um motorista consciente consegue minimamente refletir antes de avançar sobre um alagamento ao perceber o dano que pode causar ao próprio patrimônio.

“Evitem, se puderem, uma situação de água. A não ser se for uma rua que tu conhece, que não tenha uma parte baixa no meio da avenida. Tu vê que a água está na altura da guia de calçada, mais ou menos”, orienta o mecânico.

Em casos de alagamento com a água mais baixa, que não cobre a guia de calçada ou apenas atinge altura dos pneus, a travessia é mais tranquila, mas deve ser feita sempre em baixa velocidade. “Sempre passar devagar, devagarinho.”

Em situações nas quais não há como evitar a água mais profunda, o motorista deve parar, engatar a primeira marcha, pisar levemente na embreagem e avançar sempre com giro alto. Assim, o fluxo contínuo de ar não permite que a água entre pelo escapamento. Em baixa velocidade, a onda à frente também é menor. Se o carro for automático, use o câmbio em “L”, “1” ou limite a troca sequencial para que o veículo não avance a marcha e ande só em primeira. Jamais faça troca de marchas no meio da inundação.

Outro risco está depois que o dano acontece. É que as apólices atuais de seguro não cobrem casos em que os motoristas enfrentam alagamento. Apenas quando o veículo ficou em uma zona que inundou. “Ele assume o risco e a seguradora não paga”, completa Hector.