Saveiro é melhor que Strada?

A Saveiro é melhor de dirigir, melhor de acelerar e mais confortável que a Strada. Os dois produtos aliás são bem distintos ainda que tão próximos na categoria em que disputam mercado. Experimentamos a Saveiro cabine dupla na versão Extreme, a topo de gama da marca para mostrar os pontos fortes da picape compacta da Volkswagen, último descendente da família Gol ainda em produção no Brasil.

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O exterior da Saveiro recebeu mudanças mas não uma nova geração. E a gente nem imagina que isso deva acontecer. A dianteira ganhou pára-choque com mais volume, em um desenho que até lembra o Volkswagen Nivus. Esse desenho melhorou em um centímetro o ângulo de ataque da picape, que está com a frente mais alta. Faróis agora são de parábola simples em todas as versões mas tem a luz de condução diurna incandescente. A versão Trendline tem faróis de neblina entre os opcionais e a versão Extreme tem esse item de série.

A Extreme é vendida com cabine dupla. A intermediária Trendline só vem com cabine simples e a de entrada Robust pode vir dupla ou simples. Na versão topo as rodas aro 15 de liga-leve são de série e diamantadas. Na versão intermediária, a roda de liga é opcional e toda preta. A versão Robust tem calotas.

Na versão mais cara, a barras terminam com um aerofólio no teto e se prolongam com o santo antônio na caçamba. O espaço para cargas é protegido pela capota marítima em lona e também tem revestimento. As lanternas traseiras são incandescentes. O destaque fica por conta da abertura da tampa do compartimento, com sistema de molas que alivia o peso e faz com que a tampa não despenque. São 580 litros e 605 kg de capacidade de carga. Sensor de estacionamento é de série em todas as versões, até mesmo na mais barata.

Interior de Gol

Por dentro, o painel de instrumentos é o mesmo com linhas horizontais que foi utilizado nos últimos anos do Gol e do Voyage. O desenho ainda agrada, especialmente pelo cluster bastante tradicional na linha Volkswagen. É o mesmo que surgiu no Fox, com ponteiros para velocímetro, conta-giros, marcador de combustível e de temperatura. Ao centro, a tela monocromática e de baixa resolução mostra informações do computador de bordo, velocímetro e faz configurações do veículo. Um sistema simples mas que funciona. Tanto que as médias do computador de bordo foram equivalentes aos nossos cálculos na bomba do posto.

Bancos da versão Extreme são revestidos e material sintético, assim como as portas. Eles têm bom apoio lateral mas o do motorista segue com a regulagem de altura naquela alavanca tradicional Volkswagen que apenas levanta a parte de trás do assento. O espaço traseiro merece uma ressalva.

A Saveiro tem apenas duas portas e precisa reclinar os encostos dos bancos dianteiros para dar acesso. Sabemos que em tempos de carros quatro portas, essa solução não é a mais prática. Mas descontando isso, a posição dos ocupantes no banco de trás não é ruim. É no estilo “cadeirinha” e não precisa muito espaço longitudinal para acomodar as pernas porque essas ficam em posição mais vertical. Além disso, com o acento mais alto, o conforto melhora. Dentro da proposta do carro, permite sim levar dois passageiros atrás até mesmo para uma viagem. É lógico que o conforto não será de um sedã. Mas não dá para dizer que é ruim porque não é.

Equipamentos

Direção hidráulica, ar-condicionado, vidros, travas e espelhos elétricos e ainda o alarme com acionamento naquela chave que surgiu no final dos anos 90 no Golf aqui no Brasil. Tudo isso é de série assim como o sistema de mídia Composition Touch, que aliás tem um som bom. O único pacote opcional na versão Extreme inclui o espelho retrovisor interno fotocrômico e o controle de cruzeiro, que traz mais conforto mesmo em um carro manual.

Um dos únicos motores 1.6 ainda à venda

O EA 211 foi mantido em todas as versões da Saveiro, ainda que a especulação pensava em um motor 1.0 turbo. Mas quando a gente entende a proposta desse carro, percebe que o propulsor mais tradicional é muito melhor. Ele tem manutenção mais fácil, já é conhecido dos mecânicos e tem fácil acesso para as peças dentro do compartimento. São 106 cavalos de potência quando abastecido com gasolina e 116 com etanol. O toque máximo com esse combustível pode chegar a 16,1 kgfm com etanol.

Ele garante a acelerações vigorosas para Saveiro, boas retomadas de velocidade e até mesmo disposição para arrancar em aclives. O torque é bem melhor do que quando a gente compara com a Fiat Strada com motor 1.3 aspirado. E tudo isso acontece com um consumo de combustível equivalente ao da picape da Fiat. Em trânsito pesado são dez quilômetros com litro na cidade e em trânsito leve, ela passa dos 12 km/l. Em rodovia, com velocidade moderada, é possível alcançar 16 km/l ou até mais.

A Saveiro mantém a posição de dirigir do Gol e Voyage, com um pouco mais de altura do solo. Olhar para o painel ainda é agradável pra quem gostava de Gol e Parati nos anos 2000. O manuseio do câmbio manual de cinco marchas é preciso e direto. O comportamento dinâmico do carro segue a tradição da picape: bem acertada, dinâmica e aquela dirigibilidade “raiz” da Saveiro que agrada os mais puristas. É exatamente na condução que Saveiro mostra que preserva sua essência. Isso é o ponto alto da picape.

O conjunto de suspensão traseira usa molas helicoidais. Lá na Fiat Strada a mola é parabólica e feita para durar a vida toda da picape com muita carga e muito peso. Na Saveiro, o conjunto prioriza o conforto e a dinâmica de dirigibilidade. Essa mola funciona em dois estágios, uma para rodar vazia e o outro para a carga. Nas duas condições a caçamba não fica quicando em pisos irregulares.

No fim do percurso, a gente entende que Saveiro e Strada são concorrentes mas produtos distintos. Talvez hoje a Volkswagen não queira vender tantas versões topo de gama, concentrando mais na Robusto maior número de vendas. E é nessa versão em que a picape da Volkswagen se mostra superior a da Fiat pra quem prioriza dirigibilidade, motor com boas acelerações e mais conforto.

 

Reportagem: Guilherme Rockett

Fotos: Marco Escada/1ponto8