Ex-governador Rigotto fala aos concessionários do RS

O ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto participou de um encontro no Sindicato das Concessionárias de Veículos do Rio Grande do Sul (Sincodiv-RS). Na ocasião, ele falou aos representantes das lojas sobre o momento político atual do país e também sobre a taxa de juros praticada hoje no Brasil. Assunto importante para o desempenho das vendas de veículos, tanto carros quanto motos. Rigotto também abordou a influência da conjuntura nacional da política de gastos públicos.

O ex-governador ainda conversou com a reportagem da plataforma Eu Dirijo. Entre outros temas, tratou da questão da taxa de juros e considerou o percentual alto no Brasil. No entanto, a redução depende de uma série de fatores e inclusive da postura do Presidente da República. Leia a entrevista na íntegra a seguir.

Eu Dirijo: Governador Germano Rigotto: a mensagem, então o senhor trás hoje aqui para o setor de veículos, que apresentam uma melhora nesse ano, mas a gente pode até imaginar que ela é pontual em função da circunstância, tendo vista a perda de posições que se teve em anos anteriores, o que que daria para apontar como um caminho?

Germano Rigotto: Bem, primeiro, eu vou falar um pouquinho sobre o cenário econômico, principalmente o cenário econômico, que a gente tem preocupações, porque se tu tem uma economia crescendo como tu disseste, e o segundo trimestre apresentou aí um PIB crescendo 1,4% que surpreendeu. O que já leva a uma expectativa de um crescimento no ano de perto de 3 pontos percentuais. 3%, quando se tinha no início do ano uma expectativa: ele não cresceu 1; 1,5. Então essa expectativa de um crescimento maior. É importante porque significa mais geração de emprego, renda, mais desenvolvimento.

Agora a gente tem que ter muito cuidado porque hoje, o Brasil tá vivendo uma situação de uma seca pesada em muitos estados da federação que já vai comprometer parte da safra. Então a gente sabe o que que representa o agronegócio na nossa economia e esse comprometimento de parte da safra devido a seca, isso pode nos dar um reflexo no PIB. Nós, ao lado disso, a gente tem que ter muito cuidado com a questão da despesa do gasto público. Então se não tiver a responsabilidade fiscal de parte do governo – e às vezes o governo faz acenos de avançar demais na despesa – e se isso acontecer e não houver a responsabilidade fiscal, tu não tenha dúvida que isso termina refletindo na inflação. Isso termina refletindo na taxa básica de juros. Então hoje tu tem um juro alto. Dez ponto cinco é alto, a taxa Selic.

Eu Dirijo: Para financiamento de veículos, por exemplo.

Germano Rigotto: Pra financiamento de veículos, para investimento. Quer dizer: essa taxa é muito alta! Agora pra ela cair. Tu tens que ter sinalizações do governo que a inflação está contida. Que tu não vai ter repiques de aumento de inflação, que tu não tem esse aumento absurdo de despesa que levem a isso. E aí, a política monetária teria que jogar o juro para cima.

Nós já tínhamos uma ameaça de ter um aumento da taxa básica de juros agora na reunião do Copom e no anúncio que vai ser feito quarta-feira. Quer dizer: quem sabe esse crescimento do PIB de um ponto quatro, que acende uma luz vermelha na questão da taxa Selic. No PIB, crescendo, tu tem aumento de consumo e tu joga a inflação para cima. Mas ao mesmo tempo tu tens… E também isso que foi ontem divulgado, que é uma inflação muito baixa, uma deflação. E isso pode fazer com que o Copom não aumente a taxa básica de juros, como tava previsto até. De um aumento de 0,25 até 0,50.

Então se tem um sinalzinho vermelho pro Copom que é o aquecimento da economia, tem um outro sinal que significa a possibilidade de manutenção da taxa básica. Eu nem falo em reduzir. É manutenção da taxa básica de juros com essa deflação que foi publicada, foi divulgada ontem. Então eu acredito que a gente tem que ter muito cuidado nesses próximos meses, acreditando que tem esta economia, que ela está dando algumas respostas até que não se esperava. Mas tu tem sempre que ter cuidado principalmente com a questão do gasto público e dos exageros na questão do gasto.

Eu Dirijo: Passa também agora pela eleição para as prefeituras, que vão eleger novos governantes?

Germano Rigotto: Sem dúvida. Tu tens agora uma eleição municipal que é importante. Tu tens uma questão que a gente não pode deixar de considerar, que eu me dediquei a minha vida inteira pra debater: a questão da reforma tributária. Para termos um avanço no sistema tributário nacional, mudanças que o país precisa. Tu tens uma reforma tributária que passou na câmara, passou no senado. Agora há regulamentação na câmara e no senado. E essa regulamentação, ela ainda vai ter etapas a serem vencidas. Eu não sei se termina em 2024. Talvez entre em 2025. 

Mas é uma reforma tributária que eu não tenho em dúvida que, pro setor automotivo, vai significar algo melhor do que nós temos hoje. A carga tributária carga tributária sobre o automóvel é hoje em torno de 40%. Se tu pega a reforma, que o setor automotivo fique na alíquota básica, de uma previsão de 26,5; com o gatilho para não aumentar essa alíquota básica, já tem uma situação de melhora com relação ao quadro atual. Então eu acredito que a reforma tributária – que ela vai entrar em vigor a pleno só em 2033 – vamos ter etapas a se vencer. Ela pode significar algo importante para setores, como setor automotivo. Para aumentar a competitividade, para possibilidade de aumentar os investimentos no setor. E a sociedade ganha com isso. Então eu acredito que, ao lado do controle de despesa, ao lado do da responsabilidade fiscal, tu tens que ter essas reformas avançando, com a reforma tributária.

Eu Dirijo: Obrigado, governador.

Germano Rigotto: Obrigado, eu te agradeço.

Reportagem e fotos: Guilherme Rockett